A Terra dos Lobos era em tudo semelhante ao Reino das Pedras Rubras. Os homens tinham pegado em todas as lembranças do que lhes era familiar e querido da sua terra e reproduzido ali. Jefté dera indicações para que não só fosse reproduzido o que lhes agradava a eles mas, sobretudo, o que eles sabiam que agradava às mulheres. A sua ideia era seduzi-las, atraindo-as com o conforto, fazendo-as assim deixar Pedras Rubras. Jefté queria ver Litgarda sozinha. Queria que ela sentisse a dor da rejeição como ele sentira no dia em que lhe fora comunicado a decisão real. Não foi ela que lhe disse. Isso magoava-o profundamente. A sua mulher nunca mais lhe falou desde o dia do nascimento da filha. A sua mulher nunca lhe perguntara porque é que ele não estava ao lado dela quando Amestris nasceu. A sua mulher nunca lhe dera o beneficio da dúvida nem uma segunda oportunidade. A poderosa Rainha Litgarda julgou-o e condenou-o sem nunca sequer lhe ter olhado para a cara. E, por isso, Jefté odiou-a. Passou noites infindas a odiar a única mulher que algum dia amou. Passou cada segundo dessas noites a urdir a sua vingança. A desejar vê-la tão sozinha como ele se sentia. Passou as noites a sonhar com isso e os dias a construir a Terra dos Lobos; a transformar a terra estéril para onde ela o lançara em algo com futuro, produtivo.
Quase 16 anos depois, Jefté bem que podia estar orgulhoso do seu trabalho. A Terra dos Lobos era tão produtiva e fértil como o Reino das Pedras Rubras. Jefté era conhecido nos reinos vizinhos como o Rei Sem Coroa. Era respeitado como um Rei e nenhum dos seus vizinhos se atrevia a desafiá-lo. A sua fama de rectidão e justiça precedia-o, bem como a fama da sua inflexibilidade e temeridade. Jefté agia como um homem que nada tinha a perder e, por causa disso, nenhum dos reinos adjacentes corria o risco de o indispor. Todos os soberanos tudo faziam para cair nas suas boas graças. Todos menos Litgarda…
Com o tempo, as noites a odiar Litgarda deram lugar à imensa saudade. Os planos de vingança, eventualmente, transformaram-se numa dor no peito que persistia ao ponto de Servando, o médico, ser consultado apenas para diagnosticar a absoluta ausência de doença.
E foi então que, um dia, Jefté dormiu. Simplesmente dormiu. Dormiu sem pensar o que poderia fazer para enfurecer Litgarda. Dormiu sem dores no peito. Dormiu sem sonhar com o corpo dela debaixo do seu. Simplesmente dormiu. A partir desse dia, Jefté começou a governar a Terra dos Lobos apenas com o objectivo de a ver prosperar, sem o fito de prejudicar Litgarda. Claro que se a oportunidade surgisse de a irritar solenemente, não seria ele que a negaria. Ao fim ao cabo, isso seria quase contra-natura…
Havia apenas uma altura em que o coração dele ainda se apertava com saudades de Litgarda e, essa altura, era o primeiro instante de cada vez que encontrava Amestris. A filha, quase uma mulher já, era a exacta cópia de Litgarda. A Litgarda por quem ele se apaixonara há tantos anos atrás, quando as coisas eram tão diferentes, e Jefté não podia deixar de pensar nisso naqueles primeiros momentos em que via a filha.
E era precisamente nisso que Jefté pensava, à janela do seu quarto, quando Jugurta entrou dizendo-lhe que precisavam falar, precisamente, de Amestris.
9 comentários:
Começa a ficar interessante.
Mas olha lá, isto é uma novela para o Manuel de Oliveira realizar porque o Bergman já morreu e passar no canal 2? Então e os diálogos? E a acção?Isto assim são muitos planos longos, muita introspecção. O povo gosta é de gritaria, cenas mais curtas, cenários coloridos e descomplicados. Assim perdes os patrocínios e vais acabar à porta do MC a pedir o subsídio da praxe.
(ah pois é, bebé, pensavas que não ias ter a critica às canelas? )
Sérgio, tu, sim, me entendes...
À c(abra)ritica de serviço:
A critica é sempre benvinda. Mas terás uma resposta mais... Como hei-de dizer?... Mais explicadinha em post próprio.
Uma sogra... Pfffffttt...
Eu gosto quando se começam a explicar...
E uma sogra, sim, falta uma sogra.
(já conheceste algum crítico que não desses sugestões? Não?!... Andas arredada destas coisas da arte, é o que é...)
Serias a primeira que eu conseguiria entender.
Ficou interessante pela tua descrição de uma sociaedade quase perfeita (sociedade patriarca. Da capacidade do homem (com nome esquecito) esquecer a vingança e pensar no bem comum em agradar a eles e a elas que tanto mal lhe fizeram. Isso é que me agradou.
Eu sou de fácil entendimento. Tipo what you see is what you get.
O homem do nome esquisito só provou que não nada nesta vida que o tempo não amenize.
Mas não te esqueças que ainda a procissão vai no adro e ainda, se eu der ouvidos aos leitores que têm a mania que são críticos, falta a sogra!!!
(E ele não era santo. Ou seria? Teria ela motivos para correr com ele? Ou era só uma cabra sem coração?)
Aguardo desenvolvimentos. Esquece a sogra!
Amanhã à mesma hora, Sérgio.
(ou, pelo menos, mais ou menos, à mesma hora!)
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