segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A PRINCESA E O LOBO VII

Litgarda ouvia a conversa da janela do seu quarto. A sua primeira reacção foi de fúria. Quem aqueles dois julgavam que eram para decidir o futuro de Amestris à sua revelia? Amestris era sua filha. E, que ela soubesse, ainda era rainha. 

À medida que a conversa decorria, Litgarda percebeu que o que se passava no seu jardim não era um acto de traição. Aqueles dois estavam convictos de que esta era a única forma de salvar o reino. A Rainha nunca pensara num casamento de conveniência para Amestris. Sempre achara que o casamento devia ser algo que só devia acontecer por amor. E não se pode escolher a pessoa por quem outra se vai apaixonar. Devia ser Amestris a escolher o seu companheiro. Fora o que ela fizera. E depois ouviu a vozinha irritante do seu interior que lhe recordava como essa escolha tinha dado um belo resultado.

Seria possível que a solução passasse por um casamento combinado? E estaria a filha disposta a alinhar nisso?

Voltou a aproximar-se da janela. Remígia explicava a Jugurta a sua preferência por Mardoqueu. Não pôde deixar de rir quando viu o ar horrorizado de Jugurta por um dos argumentos ser a fama da beleza de Mardoqueu, bem como da sua competência em aposentos privados.

Jugurta estava capaz de bater em Remígia. A mulher estava preocupada com o aspecto e com as capacidades sexuais dos candidatos. Chegou a pensar que era uma brincadeira dela, mas Remígia nunca brincava, além de que continuava a dissertar sobre essa questão, enumerando relatos e fontes de informação. E quando tentou dizer-lhe que tudo o que ela considerava relevante era um disparate, Remígia calou-o.

- Mas se Amestris fosse homem em vez de mulher, aí seria relevante o aspecto da candidata, não? Aposto que não quererias uma mulher que não fosse agradável à vista para o futuro Rei de Pedras Rubras, pois não?

- Concentremo-nos no essencial. São os dois candidatos viáveis. Como fazemos a escolha?

- Eu vou escrever a Rei de Pedra Rosa e sondar a sua abertura para este casamento. Tu farás o mesmo com o Rei da Terra das Águias.

- Muito bem. O primeiro a obter resposta, contacta o outro.

Houve um momento de silêncio entre eles. Não havia mais nada a discutir. O sol começava a despontar.

- Bem... - Remígia lamentou, mais uma vez, nunca ter exercido o direito de procurar um homem na Terra dos Lobos. Mas esse homem seria sempre Jugurta e, o facto de serem ambos os responsáveis pela diplomacia, impedia-a de fazer aquilo que tanto desejava. O reino acima de tudo. - O sol está a nascer...

- Sim, é melhor eu ir antes que nos vejam. Boa noite, Remígia. - E a única resposta que Jugurta obteve foi um leve acenar. Mulherzinha irritante...

Da janela do quarto a Rainha sorria. Ia deixá-los conduzir aquela pequena missão e depois logo se veria o que acontecia.
 

3 comentários:

Sérgio disse...

Desta tripla sessão registo só o gosto da rainha pelas conversas alheias.

Mente Quase Perigosa disse...

Lá terei eu que por animação nisto...

(é gaija, Sérgio.)

Rochas disse...

E então?
Quais os próximos passos?!?
Quem recebeu respostas?
Quais foram elas?
E o mais? E o mais?