Estava a Rainha perdida nestes devaneios quando a porta do jardim se abriu. A porta para o 'exterior'. E por essa porta viu Remígia e viu o homem que a acompanhara até ali. O que estava Remígia a fazer com Jugurta a meio da noite? Sim, ela sabia que eram eles os responsáveis pela manutenção das relações entre as duas terras, mas, que fosse do seu conhecimento, os dois não tinham o hábito de se encontrarem. Resolviam a maioria dos assuntos à distância. Pôs a mão no fecho da janela com o intuito de a abrir e ouvir o que os dois conversavam. Hesitou. Isso seria uma falta de respeito... Pois que se lixasse, ela era a Rainha. Era sua obrigação saber o que se passava no seu reino. Ou, pelo menos, foi o que disse a si mesmo enquanto rodava o manípulo e entreabria a janela.
Enquanto olhava o casal no jardim, Litgarda não pôde deixar de reparar que Jugurta em momento algum pisou um milímetro além do limite da propriedade e admirou-o por isso. Era um sinal de respeito. Mesmo sem saber que estava a ser observado, não caiu na tentação de ir contra as leis. E seria tão fácil e tão inofensivo... Mas, ainda assim, o homem não o fez. Mas Jugurta sempre fora assim: respeitador, calmo. Litgarda não poderia ter escolhido melhor se fosse ela a escolher o amigo mais próximo do seu marido. Jugurta estava mais velho, pensou Litgarda com um sorriso. Dezasseis anos era, de facto, muito tempo. O seu cabelo negro estava já salpicado com algum cinzento e o seu rosto estava mais maduro mas nada disso o tornava um homem menos atraente. Lembrava-se bem de como ele e Jefté eram cobiçados pelas mulheres do reino. Antes e depois de Jefté ter casado com ela. Esse pensamento tirou-lhe o sorriso saudosista dos lábios. A culpa não era de Jugurta. Ele era livre de fazer o que bem entendesse com a sua vida, mas ela não conseguia perdoar-lhe o facto de ele ter estado sempre ao lado de Jefté, no bem e no mal. Não conseguia perdoar-lhe por algo que ele não podia ser responsabilizado: os actos de Jefté.
1 comentário:
De que altura é esse castelo?
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