Andava com o Coelho Branco há uma série de dias na minha mente. No sábado, dirigi-me à Fnac em busca do boneco na zona de merchandising.
O Projecto de Gaijo, depois de ver 2 minutos do filme enquanto andávamos a passarinhar na Fnac, ficou curioso com a história. Perguntei-lhe se queria que eu lhe lesse o livro. Que era um livro sem desenhos.
Ele: Só com nomes, mãe?
Os nomes para ele são palavras.
Eu: Sim, só com nomes. E temos que ler aos bocadinhos porque é muito grande.
Ele: Tá bem, mãe. Lemos nos miminhos e eu deito-me no teu abraço.
Fui às catacumbas buscar o meu exemplar do livro. Quando eu o ‘herdei’, mais ou menos com a idade dele, já o livro tinha a capa meia desfeita e as páginas amareladas. Era uma colecção de 4 livros que não me recordo se seria da minha mãe ou do meu avô. Mas era antiga. Vá… Velha…Mas é neste livro que eu me lembro de ler a ‘Alice no País das Maravilhas’ neste livro.
Quando desci com o livro, combinámos que ele não brincaria com ele que estava já muito velhinho. A tua Alice está velhinha, pois é, mãe? Pois é, filho…
Nessa noite, quando lhe comecei a ler a história, foi mais uma tradução que uma leitura. O português coloca definitivamente o livro na época do meu avô. E enquanto, eu fazia um esforço para tornar a história perceptível aos ouvidos de 4 anos, interrogava-me como é que eu e a minha irmã lemos aqueles livros assim que começámos a juntar palavras.
No dia seguinte, rendi-me às evidências. Nova visita à Fnac. Vamos comprar uma Alice nova, filho. Vamos mãe? Pois… Porque a tua Alice está muito velha, mãe?
Apetecia-me responder que a minha Alice, tal como a maioria dos velhos, está correcta mas ninguém liga a isso. Que ele, contrariamente ao que eu pensava, provavelmente, nunca irá ler a minha Alice velhinha porque se ele a lesse iria achar que estava cheia de erros ortográficos. Que a minha Alice vai continuar a existir menos velha na lembrança das vezes que lá li as aventuras da menina curiosa que seguiu um coelho branco em direcção ao desconhecido.
Agora, há lá em casa uma Alice novinha. Não a reconheço. Estamos agora a aprender a lidar uma com a outra. Mas nos livros, tal como na vida, por vezes, há que ceder o lugar àqueles que são mais capazes e que cumprem melhor a função a que se destinam. Nos livros, também os novos sucedem os velhos que devem saber retirar-se na altura certa.
Eu vou sempre recordar a Alice Velhinha. O meu filho tem a sua própria Alice. Uma Alice nova com folhas brancas. Resta-me a esperança de que ele, um dia, tenha curiosidade em conhecer aquela velha senhora que tanto fez sonhar a mãe.
2 comentários:
Vai querer, de certeza...
Era bom, Luz... Eu ía adorar...
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