domingo, 3 de agosto de 2008

PONTO ZERO

(Girl before a mirror - Picasso)


"A última das ilusões é crer que as perdemos todas."
(Maurice Chapelan)


Quem espera... Alcança ou desespera?

E o que espera quem nada espera?

É possível passar pela vida sem expectativas em relação a qualquer coisa?

Quem nada espera, não se ilude e, consequentemente, não se desilude. Até aqui, tudo faz sentido. Parece até uma forma bastante boa e segura de encarar a vida.

Agora, será viável nada esperar de uma relação? Seja ela de que natureza for. Todas as relações têm um ponto zero, aquele ponto em que se iniciam. Se todas todas as cartas forem colocadas na mesa nesse ponto, será exequível não haver expectativas? Será possível não criar a mais pequena ilusão?

Nós criamos expectativas em tudo na vida. Compramos um gelado e esperamos que nos satisfaça, vemos uma blusa numa montra e desejamos que nos assente bem. Colocamos expectativas em tudo na vida, penso que é inevitável colocá-las também nas pessoas.

Se me perguntassem hoje que expectativas tenho das pessoas, e depois de alguma reflexão, a resposta seria que, em alguns casos, a única expectativa que tinha afinal não era em relação à outra parte; a única expectativa que se tem é que não defraudemos as expectativas que os outros têm de nós.

E num ponto zero, penso que essa é a única expectativa. Tudo resto será a construir e é, ainda, apenas um grande nada refletido num jogo de espelhos.

1 comentário:

Luz de Estrelas disse...

Estás certa. Acontece sob muitos prismas, não só nas expectativas. Imagina um casal. Muitas vezes o que importa é o "eu" junto a uma certa pessoa, não a pessoa em si mesma. Muitas vezes, ao acabar uma relação, o que acontece, muitas vezes, é que nos fartamos de nós próprias naquela relação, não de quem está connosco.
Sobre as expectativas propriamente ditas, eu sou das que não "expecta" nada. Num casamento então, nada mesmo. Já foi tempo. Depois de algumas reviravoltas da vida, só sabemos que continuamos casadas ao fim do dia; no dia seguinte logo se vê. I am a non believer. Mas gosto de estar casada. Só não sobrevalorizo a união, nem penso que será para a vida. É mais um "logo se vê". Não é teoria, é assim mesmo que eu penso.