sábado, 3 de abril de 2010

“DO YOU LIKE OPERA?”*

Eu choro nos filmes. Não só nos filmes como em séries, músicas… Eu até choro em alguns anúncios de televisão. Não choro na vida real. Sim, sou estranha. Não entendo aquelas pessoas que choram por tudo e por nada e sou incapaz de entender as pessoas que não choram no ‘Paciente Inglês’.

E eu vi o ‘Filadélfia’ na mesma altura em que, provavelmente, todos vocês viram. 1993/1994. As únicas cenas que me marcaram (Não me entendam mal. É um filme fabuloso. Mas as coisas marcam-nos por motivos estranhos. Pelo menos, a mim acontece-me muito) foi a anedota dos advogados que não descansei enquanto não a contei à minha mãe, ainda não refeita da minha escolha por Literatura, preterindo, desta forma, o curso de Direito que ela acalentava a esperança que eu tirasse (praga de mãe resulta sempre. Vão por mim que não vos engano…) e foi a cena da ópera.

Eu acho que nunca tinha ‘ouvido’ ópera até então. Claro que tinha ouvido mas nunca tinha escutado. Lembro-me que ali, com 18/19 anos, fiquei siderada na sala de cinema enquanto o Tom Hanks descrevia a ária que ouvia ao Denzel Washington. Ali, escorreram-me as lágrimas do filme. Pouco tempo depois, comprei o meu primeiro cd de Maria Callas. E nunca mais fui capaz de deixar de prestar atenção. E, não raras vezes, serve esse género para expiar as dores que vão cá dentro Quem nunca ouviu ópera no carro, com o volume bem alto, não sabe o bem que se sente depois…

É como se a música tivesse o condão de libertar tudo o que está aqui acumulado e não sai e magoa e não traz nada de bom.

Foi ao som de uma ária de ópera que eu interiorizei a morte do meu pai. Foi ao som de Pavarotti que eu tomei consciência que nunca mais poderia ligar aquele número para perguntar o nome do canalizador ou o número do homem do gás. Quando ele morreu, eu fugi tão depressa de onde estava que só parei 300 kms depois quando tinha o meu filho nos braços. Quando o senti colado a mim mostrando-me vida quando me tinham dado a morte. Apontando-me o futuro quando me diziam que a partir dali só havia passado. E, com ele nos meus braços, com a cabeça dele na mesma almofada que a minha, eu senti a ilusão de que talvez não fosse tão mau assim. Mas depois o ‘Nessun dorma’ começou a tocar e eu soube que era mau, era péssimo e que uma parte de mim nunca mais seria a mesma mas que o que sobrava iria avançar e superar apesar das lágrimas e da dor.

Porque é isso que fazemos sempre: superamos e avançamos sempre. Uma lágrima de cada vez, uma dor de cada vez.

4 comentários:

Violeta Extravagante disse...

E como diz Fernado Pessoa: "as pedras do meu caminho...guardo-as todas, para mais tarde fazer o meu castelo..."

Gosto de alguma ópera, adorava ver agora no Casino Lisboa «The Opera Show»...mas tou um cadinho longe...vamos ver se consigo.

(Mente...mas haverá alguém que não chorou ao ver o Paciente Inglês????)

Mente Quase Perigosa disse...

(Há pessoas, sim, Violeta. Eu não acho possível mas que há, há...)

Rosa Negra disse...

Este tocou aqui fundo :\
Ainda não ouvi ópera desde que... acho que também ainda não interiorizei. Mas a última frase diz tudo.

Sentimento de Mim disse...

Também me refugio na ópera nos momentos difíceis. Dá uma paz de espírito inexplicável.