Se há coisa que a crise fez, foi fazer-nos redesenhar o nosso modelo de relações amorosas (podia tentar expandir isto a todas as relações mas estou no comboio e isto não se pode alongar muito que eu ainda se me enjoo).
Numa época em que o nosso governo nos aconselha a emigrar, cada vez mais casais optam por experimentar a vida noutras paragens. Como é que isso se faz? Vai um e o outro fica. Salvo raras excepções, este é o primeiro passo, pois nunca se experimenta a profundidade de um rio com os dois pés*.
O que resta, então, a estes exploradores dos tempos modernos? Ou acabam as relações que têm e optam por uma carreira a solo. Ou a relação adapta-se a esta nova realidade, o que nos leva a coisas como: um casal acorda juntos em Oeiras, toma café e ele deixa-a na estação para ela ir para outra cidade no seu caminho para o aeroporto. E se, há uns tempos, esta seria a situação de excepção, agora esta é a regra. Despedem-se como qualquer casal que vai trabalhar e se reencontra em casa ao fim do dia. A diferença é que, no final do dia, cada um deles ir dormir noutra cama, noutra casa, talvez até, noutro país.
Mas, agora, levanta-se outra questão. Durante décadas, ouvimos a máxima de que as relações à distância não resultam. Mas também há os escritores que defendem que a distância está para o amor como o vento está para o fogo**. Em que ficamos? Será que esta reformulação das relações amorosos vai ser uma fábrica de amores impossíveis à Lá Romeu e Julieta? Ou conseguirá quem, efectivamente, tiver a vontade e a resiliência suplantar todos os obstáculos e fazer a relação vingar? Poderão todos os planos feitos, no tempo em que estão juntos, alimentar a esperança e preencher as horas de camas vazias?
*Provérbio africano
**Roger Bussy-Rabutin
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