Todos gostamos de dizer que não somos preconceituosos. Eu sou. Admito e, por muito que gostasse de contrariar isso, não consigo.
Eu não me consigo imaginar a sair ou a manter um relacionamento com uma pessoa que não me seja intelectualmente igual. Por isto, não quero dizer que só gosto de ‘dótores’ ou ‘enginheiros’. Que isso é um erro crasso que é muitas vezes repetido. É que um curso superior, hoje em dia, não é sinónimo de inteligência. Conheço muito ‘dótore’ que nem consegue conjugar o verbo com o sujeito quanto mais manter uma conversa interessante. Por oposição, outros há que nem tendo acabado o secundário nos prendem com raciocínios brilhantes e teorias que nunca nos tinham aflorado a ideia.
Eu sei. Está tudo agora a pensar: Então a cabra acha-se assim tão esperta que faz testes de QI aos gaijos antes de os comer?
Desculpem, mas que me pode levar a envolver-me com alguém com quem não possa falar? Que me pode fazer relacionar com alguém que ao escrever-me um bilhete, me arrepia os pelos da nuca e quejandos com os erros de português?
Não consigo. Eu sei que o problema é meu, mas não consigo. Começo a imaginar-me a tentar fazer uma qualquer piada e a mesma a perder-se no ar porque a pessoa não entende. Começo a pensar nas noites a discutir o telejornal quando eu detesto ver noticias. E prende-se-me o ar e fico aflita e apetece-me fugir. Para isso, mais vale ficar quietinha, não é?
De igual modo me incomoda ver um homem inteligente, culto, interessante correr atrás de uma mulher que não consegue articular uma frase com principio, meio e fim mais do que uma vez de 6 em 6 meses. E se eu de alguma forma estiver envolvida nessa história, é o equivalente intelectual a ter um homem fantástico na minha cama, de lençóis lindos, cheirosos e imaculados, e saber que ele depois vai para uma cama suja de lençóis manchados e bolorentos. E a dúvida intelectual é se depois de sair desse antro voltou a entrar na minha cama imaculada sem passar no chuveiro. E acreditem que isto é algo que me deixa fisicamente nauseada.
Sim, sou preconceituosa. E, aparentemente, cada vez mais. É que se antes só me afectavam as pessoas burras em relação a mim, agora também me afectam em relação a pessoas que me atraem. É que se antes me incomodava a promiscuidade física, agora também dá cabo de mim a promiscuidade intelectual. Como se temesse que fosse algum vírus que me possa infectar e transformar.
E com tudo isto a certeza de que estou a meio passo de ter uma longa e próspera vida exclusivamente dedicada ao celibato. Ai estou, estou…